Crítica Libertária

Sobre críticos e libertários, ler abaixo... Aqueles serão os significados dessas palavras neste espaço de discussão, cooperação e diversão... (por quê, não?)

Crítico

O crítico não é um operador, mas um revisor. E é este o domínio que interessa ao indivíduo, quer seja ou não estudioso ou filósofo, que opte por uma postura crítica. Defendo que a crítica não deve limitar-se às produções estéticas humanas porém, mais do que à generalidade do agir, aplicar-se à própria "percepção" de "mundo", organizada a partir da "leitura" racional.

Libertário

Libertário, segundo definições de dicionário, pode ser compreendido como aquele que se inspira em doutrinas preconizadoras da liberdade "absoluta". Liberais, valorizam, acima de tudo, a liberdade. Isso inclui suas conseqüências para o "bem" ou para o "mal". Bem e mal são conceitos controversos, entretanto suponhamos que o cerceamento de liberdade - tido como um bem - pelos liberais seja um mal. Disso conclui-se que minha liberdade não pode atentar contra a liberdade de outro; portanto, não existe liberdade absoluta. Por outro lado, quanto mais houver liberdade, mais se acentuarão as diferenças. Já os libertinos dos séculos XVI e XVII caracterizaram-se pela liberdade de pensar, tratando das questões humanas sem se curvar a dogmas religiosos ou preceitos morais. Libertário, aqui, significará, particularmente, aquele que defende a liberdade -amíude, a de crítica - que impossível de ser absoluta - ad infinitum - que o seja enquanto dure...

Quem sou eu

Uma entidade difícil de definir pelo formalismo lingüístico. Entretanto, enquanto sujeito, defendo a liberdade de crítica e pratico a crítica da liberdade. Conseqüência: caminhar sobre o "fio da navalha" buscando o equilíbrio entre a transgressão e a disciplina, entre o rigor e a suavidade; tendo como "sol", a iluminar-me e a apontar-me o horizonte, a emancipação conferida pela reflexão ética e como forma primeira de expressão: a poesia.

Uma tarde em L. da Conceição...

Uma tarde em L. da Conceição...

Contato

tellessr.2016@gmail.com

AFORISMOS

"A verdadeira máxima do homem-massa é esta: sei que sou um verme, mas todo mundo é..." (Émile Zola)

"Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas" (Antoine de Saint-Exupéry ).

"Vivemos, num lusco-fusco da consciência, nunca certos com o que somos ou com o que nos supomos ser" (Fernando Pessoa).

DESTAQUE

Navegar é Preciso Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa: "Navegar é preciso; viver não é preciso".

Quero para mim o espírito [d]esta frase, transformada a forma para a casar como eu sou:

Viver não é necessário; o que é necessário é criar. Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso. Só quero torná-la grande, ainda que para isso tenha de ser o meu corpoe a (minha alma) a lenha desse fogo.

Só quero torná-la de toda a humanidade; ainda que para isso tenha de a perder como minha. Cada vez mais assim penso.

Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir para a evolução da humanidade.

É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça.

(Fernando Pessoa)

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Acerca do viver...

Fernando Pessoa
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... e a única vida que temos é essa que é dividida entre a verdadeira e a errada...

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Quadra


Nazim Hikmet

Como sementes deitadas à terra espalhei os meus mortos
alguns repousam em Odessa,
alguns em Istambul, outros ainda em Praga,
o país que eu prefiro é toda a terra
quando chegar a minha hora, cubram-me com a terra inteira.

O poeta turco Nazim Hikmet é ainda hoje uma das grandes referências do século XX na Europa. Homem perseguido e condenado marcou um tempo de grande devoção sobre a concórdia e união entre povos, tendo como fim último a Liberdade. De um outro modo, hoje continuamos essa luta, ajudados por tudo o que a História nos foi ensinando, sobre como fazer, como partilhar a acção, mas também como sentir em conjunto.Dessa terra inteira, fascinante mesmo, é senti-la e ter algo para contar que fortaleça o que demos, que enobreça aquilo por que combatemos, que engradeça esse conceito de Homem feito à imagem e semelhança de Deus ou da perfeição libertadora, como queiram.

Fonte: http://maquinaroyal.blogspot.com/2007/04/em-torno-de-nazim-hikmet.html

Poema...

... atribuído a Nazim Kikmet (poeta turco)
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O mais belo dos mares,é aquele que ainda não vimos.
A mais linda criança,ainda não nasceu.
Os nossos dias mais formosos,ainda não os vivemos.
E o melhor de tudoque tenho para te dizer,ainda não te disse:
amo-te... hoje... e sempre...

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Diplomacia


Kofi Annan



"Nenhuma nação pode conseguir a segurança, tentando obter a supremacia sobre os outros."

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Acerca da Humildade II

Ignorado
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"Um homem só tem o direito de olhar um outro de cima para baixo, para ajudá-lo a se levantar"

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Sobre a devastação da Amazônia

Fonte:
http://www.universia.com.br/materia/materia.jsp?materia=10624

Carta aberta atribuída a artistas brasileiros


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Acabamos de comemorar o menor desmatamento da Floresta Amazônica dos últimos três anos: 17 mil quilômetros quadrados. É quase a metade da Holanda. Da área total já desmatamos 16%, o equivalente a duas vezes a Alemanha e três Estados de São Paulo. Não há motivo para comemorações. A Amazônia não é o pulmão do mundo, mas presta serviços ambientais importantíssimos ao Brasil e ao Planeta. Essa vastidão verde que se estende por mais de cinco milhões de quilômetros quadrados é um lençol térmico engendrado pela natureza para que os raios solares não atinjam o solo, propiciando a vida da mais exuberante floresta da terra e auxiliando na regulação da temperatura do Planeta.
Depois de tombada na sua pujança, estuprada por madeireiros sem escrúpulos, ateiam fogo às suas vestes de esmeralda abrindo passagem aos forasteiros que a humilham ao semear capim e soja nas cinzas de castanheiras centenárias. Apesar do extraordinário esforço de implantarmos unidades de conservação como alternativas de desenvolvimento sustentável, a devastação continua. Mesmo depois do sangue de Chico Mendes ter selado o pacto de harmonia homem/natureza, entre seringueiros e indígenas, mesmo depois da aliança dos povos da floresta “pelo direito de manter nossas florestas em pé, porque delas dependemos para viver”, mesmo depois de inúmeras sagas cheias de heroísmo, morte e paixão pela Amazônia, a devastação continua.
Como no passado, enxergamos a Floresta como um obstáculo ao progresso, como área a ser vencida e conquistada. Um imenso estoque de terras a se tornarem pastos pouco produtivos, campos de soja e espécies vegetais para combustíveis alternativos ou então uma fonte inesgotável de madeira, peixe, ouro, minerais e energia elétrica. Continuamos um povo irresponsável. O desmatamento e o incêndio são o símbolo da nossa incapacidade de compreender a delicadeza e a instabilidade do ecossistema amazônico e como tratá-lo.
Um país que tem 165.000 km2 de área desflorestada, abandonada ou semi-abandonada, pode dobrar a sua produção de grãos sem a necessidade de derrubar uma única árvore. É urgente que nos tornemos responsáveis pelo gerenciamento do que resta dos nossos valiosos recursos naturais.
Portanto, a nosso ver, como único procedimento cabível para desacelerar os efeitos quase irreversíveis da devastação, segundo o que determina o § 4º, do Artigo 225 da Constituição Federal, onde se lê:
"A Floresta Amazônica é patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais"
Assim, deve-se implementar em níveis Federal, Estadual e Municipal A INTERRUPÇÃO IMEDIATA DO DESMATAMENTO DA FLORESTA AMAZÔNICA. JÁ!
É hora de enxergarmos nossas árvores como monumentos de nossa cultura e história.
SOMOS UM POVO DA FLORESTA!

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Sobre o Riso

Georges Tamer
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"O que faz alguém rir depende de sua educação, sua visão política, sua religião e sua cultura".

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Nosso "Eu"

HTSR
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Creio que o grande desafio, nos dias de hoje e, por conseguinte, o principal objetivo, não é nos descobrirmos ou redescobrirmos mas, sim, a partir da análise crítica, nos recusarmos a sermos o que somos, enquanto produto à margem de uma escolha e reinventarmos, o mais livremente possível, a nossa subjetividade.

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Saudando a Dor...

HTSR
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Nada como a lucidez de espírito para escrever palavras tão estimulantes a um amigo ou a si mesmo... A dor acompanha o “descortinar” de um novo “grande” momento em nosso “devir”. Grande não em volume ou extensão... mas, sim, grande em importância ou, metaforicamente me expressando, em profundidade... Um novo mergulho nas águas do existir... Como cada vez mais fundo... mais ousado... maior o frio inicial. Mergulhar onde jamais nos aventuramos antes... descobrir novas paisagens... depurar a visão... sair da obviedade da claridade... abandonar o tépido conforto de uma homeostática cotidianicidade... Nos afastarmos do “sol” social para ingressarmos no “espaço interior”... Cada vez mais profundamente... onde, para enxergarmos, teremos que desenvolver luz própria... típica dos seres das profundezas... Nada de ver com olhos emprestados ou roubados... Nada de sentir com sentidos de outrém. Nada de metades... Nem “caras” e nem “baratas”... Unicidade em si mesmo, isso sim... Um espelhar-se em si... Um egoísmo salutar, uma ética do amor próprio, antes de um egocentrismo... Um voltar a si... Um estar em si... Libertar-se de mais alguns grilhões que já se afundavam na própria carne... Que eram mais do que assimilados pelo corpo, assimiladores do espírito... Ainda que a disjunção cartesiana não seja tão degustável pelo meu crítico paladar, à ela apelo como um recurso fortalecedor à proeminência cognitiva, sem a qual nosso comportamento se assemelharia ao de alguém em estado comatoso. Assim... um viva a razão! Ou melhor, à meta-razão! A razão das razões! Ao que nos faz pensar... Ao que nos move rumo ao esclarecimento... À não inércia! Um viva à angústia! Que, como diz Comte-Sponville, é o motor de nossa ação! Um viva à dor! O alarme que nos desentorpece e nos faz sentirmos vivos!

terça-feira, 24 de julho de 2007

Epitáfio para um Romance...


HTSR
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A cadeira... Sim o assento onde, agora, apoia-se o corpo... um sustentáculo de ossos... Pensamentos? Que pensamentos? Como have-los num mundo sem linguagem? Análises, associações, sínteses... reduziram-se a partículas em suspensão, que nem mesmo um fio de luz poderia revelar, dado sua inexistência naquele espaço...
Sem coordenadas, a priori, nem temporais... nem espaciais... sem linguagem... como obter algum conjunto de movimentos ao nível da pré-atuação? Nenhuma iniciativa sub-vocal... Nenhum impulso sub-gestual... Quietismo e quietude... Nem fala e nem ação... Situação inenarrável e inaferível...
Mas... já não era sem tempo aquele perder-se no tempo... Como o frasco com auto-fluxo de Robert Boyle, cuja possibilidade ocorre tão só no imaginário, o paradoxo haveria de, por si só, impor-se aquele ser, ainda vivente...
Se máquinas de moto contínuo não existem no mundo compartilhável, um consenso acerca do real, ele mesmo tinha se transformado nesse mecanismo e real era um conceito sem sentido... Agora rememorava espectros dum real, hoje virtual, soterrado por um virtual que é mais do que real... Tão real que impõe sobre qualquer vontade a decisão atroz de sua autoridade magistral... E ele a esvair-se no tempo como areia em uma ampulheta animada, que vira e revira-se por própria vontade. A questão não é a finalidade deste voltar a si sem volta, pois o que passou, passou... É o inconformismo temporal... é a rebeldia contra Cronos... É a prometeica arrogância de se desafiar um deus... E o castigo é o próprio enfrentamento. É ter na própria carne o deus incorporado. Assim, a cada instante que o tempo se esvai, um pedaço de si mesmo foge e a própria história se distância... A cada volta uma revolta... Um moer-se cada vez mais... um tornar-se mais areia... cujos grãos se esvoaçam na ventania dos minutos, que não o são mais para serem horas... E ele, o que sabe do tempo, na alienação kairológica de sua dor, onde quanto mais lhe foge o tempo maior o seu sofrimento... A pele que se reduz a pó... as lágrimas que se reduzem a sangue... os lábios que os próprios nervos costuram... A poesia silenciada em suas notas... Versos que escorrem por olhos fechados... A metamorfose... o virtual que, de instância do real, reduziu o real a sua instância...(continua)

segunda-feira, 25 de junho de 2007

Acerca da Humildade I

Ignorado
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"Não importa o tamanho da montanha. Ela não pode tapar o sol."

Felicidade


Érico Veríssimo
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Felicidade é ter a certeza de que a nossa vida não está passando inutilmente.











Rembrandt

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Verdade

Akhenaton
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"A Verdade de um só ponto de vista é ilusão"

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Amor e Liberdade

(Ignorado)
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"Amo a liberdade
porque quem amei
os libertei
Se voltaram é porque
os conquistei
se nunca voltaram é porque nunca os tive."

terça-feira, 22 de maio de 2007

PENSANDO A CIDADE - com o "palestrante" Luiz Henrique da Silveira (15/05/2007)

Relato de testemunha ocular
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Florianópolis - Horário de início oficial do evento: 18:30

18:45 - Chego na FIESC. Entro no hall e para minha surpresa tá rolando um coquetel... Será que eu errei o horário e a palestra já acabou?? Nãooo, enquanto eu tomava um café me explicam que o Governador tá voltando de uma "missão em Brasília" (esse é o código pro red ou pro black label?) e vai atrasar um pouco, por isso liberaram a ração pra porcada não berrar.
19:00 - Contagem: tem uns 5 alunos da UFSC. A Beatriz, professora de arquitetura, também está presente.
19:15 - Fui na recepção pegar meu "material". Só tinha propaganda, a única coisa útil eram 2 folhas em branco e uma caneta. Foi aí que reparei: o evento é patrocinado por Elevadores ThyssenKrupp, Gerdau e Grupo Votoran... Cimento, aço e elevadores... OH, O QUE SERÁ QUE ELES QUEREM FAZER COM FLORIPA?? 19:16 - Um amigo meu tem a sensacional idéia de mudar o nome do evento para "Concretando a Cidade". 19:20 - Pessoal começa a entrar no auditório. Música de motel rolando. 20:15 - Com quase 2h de atraso (isso que é respeito pelo povo!) chega a noiva, seguida de uma tripa de puxa-saco. Sem brincadeira, eram uns 20 seguindo ele auditório abaixo, parecia que tavam segurando a grinalda da criança. 20:30 - A mulher do Bom Dia SC é a mestre de cerimônias. Discursinho de boas vindas, hino nacional, blablabla, e chega a hora de chamar os componentes da mesa (umas 15 pessoas). Sem brincadeira, aquilo era a listagem da Polícia Federal: Marcondes (Costão), Péricles de Freitas (Presidente Habitasul; 3 envolvidos), entre mais uma corja realmente DO MAL. 20:45 - O presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil da Grande Florianópolis faz uma abertura da palestra, onde mete pau na operação Moeda Verde e trata a corja da mesa como heróis injustiçados. Passam então um vídeo produzido pelo Sindicato, que parece muito ter sido produzido com base na entrevista do LHS na TVBV. Um total absurdo, uma falta de bom senso. 20:50 - Aparecem palmas quando o cara se empolga metendo pau na Polícia Federal. Pela contagem das palmas, concluí que 2/3 da platéia era formada de puxa-sacos e empresários. O outro 1/3 da platéia que não bateu palmas era formado por estudantes, professores e outras pessoas com cérebro. 21:00 - A apresentadora bonitinha informa que devido ao fato do tempo ser curto e o governador ter outros compromissos depois da palestra (22h - Martini; 23h - Conhaque) a platéia não poderia FORMULAR PERGUNTAS(!). Ouve-se um murmúrio das pessoas com cérebro, e um com o cérebro um pouco maior berra: "Eu já sabia! Conta alguma novidade!!" 21:02 - Chega a hora da excelentíssima morsa falar. Não vou detalhar muito porque ele praticamente repetiu o que disse na entrevista (com algumas besteiras inéditas). 21:05 - Pauladas na PF. Citações de Marx, de filósofos gregos e o escambau pra defender os indiciados. Discurso emocionado e indignado. Dois terços de palmas. Mete pau nas favelas e diz que onde não se constrói empreendimentos tudo acaba virando favela e esgoto a céu aberto. Palmas. 21:20 - Começa com um histórico besta sobre economia. Enrolação pra dar uma de cult. Logo se cansa do papinho e volta a atacar. Dessa vez é o CONAMA quem vai pro saco. "Meia dúzia de técnicos que pensam que mandam no mundo", berra cuspindo. Um terço da platéia indignada, boquiaberta. Dois terços clap clap clap. 21:40 - Papinho dos hotéis. Fala do hotel "internacional" que acabou indo pra Tailândia porque aqui não rolou. Dá exemplos pitorescos das mil e uma edificações que ele viu em suas viagens, atingindo o clímax dando o exemplo de um hotel em que o hóspede desce de elevador (ThyssenKrupp?), pega uma ESTEIRA ROLANTE por cima da AREIA e é "depositado" confortavelmente na sua marina. Dois terços aplaudindo, um terço se beliscando pra confirmar que não era um pesadelo. 21:50 - LHS dá a informação de que ele está negociando a vinda de uma grande montadora de automóveis pra cá (olha a idéia), mas o motivo de estarmos perdendo a concorrência pra um Estado vizinho é de que aqui não há nenhuma escola americana pros filhos dos frufrus crescerem falando inglês, e que acima disso a principal exigência dos gringos é que eles PRECISAM de um campo de golfe, senão não rola!!! PUTA MERDA!! Momento de maior tumulto na platéia, risadas histéricas e uns berros indignados. Pensei na sugestão deles jogarem críquete na joaquina. Ou ainda peteca, frescobol. Só faltou o LHS se abaixar, levantar a toalha da mesa, baixar as calças do Mr. Costão do Santinho e lamber suas bolas. Mas isso não aconteceu, pelo menos durante a palestra. 22:00 - Mais algumas besteiras intercaladas com palmas e beliscões e ele parte pro final. Discurso inflamado e emocionado, papinho sobre crescimento e desenvolvimento blablabla e o 'muito obrigado' final. Palmas enfurecidas. 22:01 - Uma mulher levanta a voz pra falar com LHS e começa a dizer que quando a convidaram pra participar da palestra o tema não uma cerimônia de louvor à essa putada que tenta destruir nossa ilha, e muito menos um ritual de achincalhamento à Polícia Federal, ao Ministério Público, aos Vereadores de Floripa e ao CONAMA. A horda de puxa-sacos começa a vaiar e não deixa a mulher continuar a falar. Os com cérebro começam a aplaudir a mulher. Confusão do demonho, pessoal começa a se levantar pra sair e tudo acaba com um semi-bafafá. Luiz Henrique deixa o local um pouco transtornado. FIM! É isso pessoal, parece que mês que vem tem mais. Gostaria que essa parcela de 1/3 aumentasse... é a cidade de vocês em jogo. Abraços.
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"O mundo é uma festa, e o gelo está acabando"
Consultar:
Gov. de SC Luiz Henrique - Entrevista TVBV: http://video.google.com/videoplay?docid=-8286208201407673708

segunda-feira, 21 de maio de 2007

Um hino auspicioso


Poeta "Azizinho"
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Rancho de amor à pandilha [1]
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Um pedacinho de terra vou negociar,
Num pedacinho de terra vou especular!
Jamais a natureza reuniu tanta vileza,
Jamais algum pelego pôde tanto se esbaldar.
Um pedacinho de terra vou dilapidar.

Encontrei vereadores
Sem muitos pudores
Que vão me ajudar
Com o Plano Diretor
Que eu mais o doutor
Vamos entortar!

Por cima da manezada
Eu e a rapaziada
Vamos gargalhar.
E amigos na prefeitura
A nossa fartura
Vão autorizar!

[1] Obs.: Os acentos dos versos estão em negrito para facilitar o canto. Por ocasião do aniversário de Zininho e em meio a uma operação que tem embaraçado a pandilha local.
Consultar:
Cidade de Florianópolis (Blog): http://www.cidadedeflorianopolis.blogspot.com/

Para rir um pouco...


Como nem só de sisudez o homem viverá...
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(Ignorado)
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Dilema Médico
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Um médico estava sentado na cadeira do seu consultório, depois de ter transado com sua paciente. Pensando no que havia feito, sua consciência lhe repetia: - Mas o que é isso??? Olha o que fiz? Que vergonha, perdi toda a ética profissional!!! Depois de se culpar por algum tempo, observa que sobre seu ombro direito aparece um diabinho que lhe diz: - Escuta aqui... Não seja idiota, há um montão de médicos que transam com seus pacientes. O que você acha, que é o único? Me escuta seu babaca, isso é a coisa mais normal do mundo! O médico, convencido, concorda e diz que o diabinho tem razão, realmente não havia feito nada demais. Mal acabou de dizer e notou que aparece um anjinho em seu ombro que lhe diz ao ouvido: - Só não se esqueça que você é médico VE-TE-RI-NÁ-RIO, VE-TE-RI-NÁ-RIO, seu idiota! Não se esqueça!!!!

Sobre o Homem - I


HTSR
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Cântico ao Homem de Boa Vontade
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Louvai ao Homem. Louvai o Homem no seu santuário (Ser),
Louvai-o no firmamento de sua humanidade.
Louvai-o pelos seus atos poderosos
Louvai-o conforme a excelência de seu caráter.
Louvai-o com o som de trombeta;
Louvai-o com o saltério e a harpa;
Louvai-o com o adufe e a flauta;
Louvai-o com instrumentos de cordas e com órgãos;
Louvai-o com címbalos sonoros;
Louvai-o com címbalos altissonantes.
Tudo quanto tem fôlego louve ao Homem.
Louvai ao Homem.
Louvai-o com a música
Lembre-o sempre de ser HomemE quem tem ouvidos, ouça.[1]

[1] Baseado no salmo 150, Bíblia. 1975, Rio de Janeiro, Imprensa Bíblica Brasileira

domingo, 20 de maio de 2007

Sobre os Diferentes - II


Luís Fernando Veríssimo[1]

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O Nariz
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Era um dentista respeitadíssimo. Com seus quarenta e poucos anos, uma filha quase na faculdade. Um homem sério, sóbrio, sem opiniões surpreendentes, mas de uma sólida reputação como profissional e cidadão. Um dia, apareceu em casa com um nariz postiço. Passado o susto, a mulher e a filha sorriram com fingida tolerância. Era um daqueles narizes de borracha com óculos de aros pretos, sobrancelhas e bigodes que fazem a pessoa ficar parecida com o Groucho Marx. Mas o nosso dentista não estava imitando o Groucho Marx. Sentou-se à mesa do almoço – sempre almoçava em casa – com a retidão costumeira, quieto e algo distraído. Mas com o nariz postiço.
– O que é isso? - perguntou a mulher depois da salada, sorrindo menos.
– Isto o que?
– Esse nariz.
– Ah, vi numa vitrine, entrei e comprei.
– Logo você, papai...
Depois do almoço ele foi recostar-se no sofá da sala com fazia todos os dias. A mulher impacientou-se.
– Tire esse negócio.
– Por quê?
– Brincadeira tem hora.
– Mas isto não é brincadeira.
Sesteou com o nariz de borracha para o alto. Depois de meia hora, levantou-se e dirigiu-se para a porta. A mulher o interpelou:
– Aonde é que você vai?
– Como, aonde é que eu vou? Voltar para o consultório.
– Mas e esse nariz?
– Pense nos vizinhos. Pense nos clientes.
Os clientes, realmente, não compreenderam o nariz de borracha. Deram risadas (“Logo o senhor doutor...”), fizeram perguntas, mas terminaram a consulta intrigados e saíram do consultório com dúvidas.
– Ele enlouqueceu?
– Não sei – respondia a recepcionista, que trabalhava com ele há 15 anos. - Nunca vi ele assim.
Naquela noite, ele tomou seu chuveiro, como fazia sempre antes de dormir. Depois, vestiu o pijama e o nariz postiço e foi se deitar.
– Você vai usar esse nariz na cama? - perguntou a mulher.
– Vou. Aliás não vou mais tirar esse nariz.
– Mas, por quê?
– Por que não?
Dormiu logo. A mulher passou a metade da noite olhando para o nariz de borracha. De madrugada começou a chorar baixinho. Ele enlouquecera. Era isto. Tudo estava acabado. Uma carreira brilhante, uma reputação, um nome, uma família perfeita, tudo trocado por um nariz postiço.
– Papai...
– Sim , minha filha.
– Podemos conversar?
– Claro que podemos.
– È sobre esse seu nariz.
– O meu nariz, outra vez? Mas vocês só pensam nisso?
– Papai, como é que nós não vamos pensar? De uma hora para outra, um homem como você resolve andar com um variz postiço e não quer que ninguem note?
– O nariz é meu e vou continuar a usar.
– Mas por que, papai? Você não se dá conta de que se transformou no palhaço do prédio? Eu não posso mais encarar os vizinhos, de vergonha. A mamãe não tem mais vida social.
– Não tem porque não quer...
– Como é que ela vai sair na rua com um homem de nariz postiço?
– Mas eu não sou “ um homem”. Sou eu. O marido dela . O seu pai. Continuo o mesmo homem. Um nariz de borracha não faz nenhuma diferença.
– Se não faz nenhuma diferença, então por que usar?
– Se não faz diferença, por que não usar?
– Mas, mas...
– Minha filha.
– Chega! Não quero mais conversar. Você não é mais meu pai!
A mulher e a filha saíram de casa. Ele perdeu todos os clientes. A recepcionista, que trabalhava com ele há 15 anos, pediu a demissão. Não sabia o que esperar de um homen com um nariz postiço. Evitava aproximar-se dele. Mandou o pedido de demissão pelo correio. Os amigos mais chegados, numa última tentativa de salvar sua reputação,o convenceram a consultar um psiquiatra.
– Você vai concordar – disse o psiquiatra, depois de concluir que não havia nada errado com ele – que seu comportamento é um pouco estranho...
– Estranho é o comportamento dos outros! - disse ele. - Eu continuo o mesmo. Noventa e dois por cento do meu corpo continua o que era antes. Não mudei a maneira de vestir, nem de pensar, nem de me comportar. Continuo sendo um ótimo dentista,um bom marido, bom pai, contribuinte, sócio do Fluminense, tudo como antes. Mas as pessoas repudiam todo o resto por causa deste nariz . Um simples nariz de borracha. Quer dizer que eu não sou eu, eu sou o meu nariz?
– É... - disse o psiquiatra – Talvez você tenha razão...
O que é que você acha, leitor? Ele tem razão? Seja como for, não se entregou. Continua a usar um nariz postiço. Porque agora não é mais uma questão de nariz. Agora é uma questão de princípios.


[1] (O analista de Bagé. Porto Alegre, Palotti,1981. p.39-41)

O Triunfo dos Imbecis

Giovanni Papini
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in "Relatório Sobre os Homens"
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"Não nos deve surpreender que, a maior parte das vezes, os imbecis triunfem mais no mundo do que os grandes talentos. Enquanto estes têm por vezes de lutar contra si próprios e, como se isso não bastasse, contra todos os medíocres que detestam toda e qualquer forma de superioridade, o imbecil, onde quer que vá, encontra-se entre os seus pares, entre companheiros e irmãos e é, por espírito de corpo instintivo, ajudado e protegido.
O estúpido só profere pensamentos vulgares de forma comum, pelo que é imediatamente entendido e aprovado por todos, ao passo que o génio tem o vício terível de se contrapor às opiniões dominantes e querer subverter, juntamente com o pensamento, a vida da maioria dos outros.
Isto explica por que as obras escritas e realizadas pelos imbecis são tão abundante e solicitamente louvadas - os juízes são, quase na totalidade, do mesmo nível e dos mesmos gostos, pelo que aprovam com entusiasmo as ideias e paixões medíocres, expressas por alguém um pouco menos medíocre do que eles.
Este favor quase universal que acolhe os frutos da imbecilidade instruída e temerária aumenta a sua já copiosa felicidade. A obra do grande, ao invés, só pode ser entendida e admirada pelos seus pares, que são, em todas as gerações, muito poucos, e apenas com o tempo esses poucos conseguem impô-la à apreciação idiota e ovina da maioria. A maior vitória dos néscios consiste em obrigar, com certa frequência, os sábios a actuar e falar deles, quer para levar uma vida mais calma, quer para a salvar nos dias da epidemia aguda da loucura universal."

Sobre o Amor - III


Carlos Drummond de Andrade
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As Sem Razões do Amor
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Eu te amo porque te amo. Não precisas ser amante, e nem sempre sabes sê-lo. Eu te amo porque te amo. Amor é estado de graça e com amor não se paga. Amor é dado de graça, é semeado no vento, na cachoeira, no eclipse. Amor foge a dicionários e a regulamentos vários. Eu te amo porque não amo bastante ou a mim. Porque amor não se troca, não se conjuga, nem se ama. Porque amor é amor a nada, feliz e forte em si mesmo. Amor é primo da morte, e da morte vencedor, por mais que o matem (e matam) a cada instante de amor.

Sobre o Amor - II


Carlos Drummond de Andrade
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Amor
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Ah... amor...
Esse bem tão valioso
E tão desconhecido...
Essa coisa tão bela
Mas que tantas vezes
Fica atrás da amizade!
Essa virtude que é esquecida
Quando nos apressamos a julgar...
Lá - um outro - sem amor!
Aqui - nós - sem amor!
Queremo-lo! Queremo-lo como ele não é!
Exigimos! Quando deveríamos doar!
Cobramos pelo que damos!
Nos enganando / a enganar...
Ofendemos ao amor, em nome do "amor"...
Pelo "amor", punimos nosso amor...
E, por "amor", abandonamos o amor...
Para, se amando, reencontrá-lo ao nosso lado!
Sem medo de ser feliz!
Feliz por ser liberto
E feliz tornando aos que aprenderam
Que amar é viver
Que viver é libertar
E que libertar é... amor...

Sobre o Amor - I

Carlos Drummond de Andrade
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Viver não dói
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Definitivo, como tudo o que é simples. Nossa dor não advém das coisas vividas, mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram. Por que sofremos tanto por amor? O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez companhia por um tempo razoável, um tempo feliz. Sofremos por quê? Porque automaticamente esquecemos o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado do nosso amor e não conhecemos, portodos os filhos que gostaríamos de ter tido junto e não tivemos, por todos os shows e livros e silêncios que gostaríamos de ter compartilhado, e não compartilhamos. Por todos os beijos cancelados, pela eternidade. Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um amigo, para nadar, para namorar. Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco, mas por todos os momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas angústias se ela estivesse interessada em nos compreender. Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada. Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar. Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples: Se iludindo menos e vivendo mais!!! A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta quenada arrisca.A dor é inevitável. O sofrimento é opcional.

quinta-feira, 17 de maio de 2007

Sobre a Ira

Swami Sri Yukteswar
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A ira brota apenas de desejos contrariados.
Não espero coisa alguma dos outros;
portanto, suas ações não podem estar
em oposição aos meus desejos.

sábado, 12 de maio de 2007

Dia das Mães

Carlos Drummond de Andrade
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Para Sempre
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Por que Deus permite
que as mães vão se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não se apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele,
velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.

sexta-feira, 11 de maio de 2007

Despedida Conjugal

HTSR
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Uma Reflexão Pertinente
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Que palavras se pode proferir quando uma relação entre duas pessoas chega ao “fim” ? Em primeiro lugar o que se pode entender por fim? Fim quer dizer extinção ou pode significar mudança de status?
“Palavras são apenas palavras” dizem aquelas pessoas que se julgam “práticas” e fogem da reflexão como o diabo foge da cruz. Me pergunto como algo pode ser prático sem antes ter, em qualquer etapa de sua elaboração, passado por um processo de racionalização. Deste modo acredito que o “prático” vulgar não passa de uma ação de “papagaio” - pura imitação - ato irrefletido e irresponsável. Mas, poderiam alguns opositores da reflexão inquirir, por quanto tempo devemos refletir uma ação antes de executá-la? Responderia, ironicamente, que “antes que a vida cesse”. “Qual vida?” perguntaria o cético. Aqui o diálogo passa a ficar mais interessante e podemos passar à algumas definições pertinentes à questão principal que será abordada a seguir. Defenderei como vida algo além do conceito biologicista que a resume em “um conjunto de propriedades e qualidades graças as quais animais e plantas, ao contrário dos organismos mortos ou da matéria bruta, se mantêm em contínua atividade, manifestada em funções orgânicas tais como o metabolismo, o crescimento, a reação à estímulos, a adaptação ao meio, reprodução, etc. Certamente um ser que possua essas propriedades e/ou qualidades é um ser vivo, com existência material. Não serei radical ao ponto de afirmar que hajam seres que ignorem por completo que existam, nem que hajam seres completamente irracionais (apesar de muitas evidências à favor), mas a consciência da existência, e atribuições possíveis de serem impostas à mesma, certamente devem sofrer significativa influência da racionalidade. Supondo que ocorram seres mais racionais do que outros e, de acordo com esta suposição, permitindo-nos pensar que um chimpanzé seja mais “racional” do que uma ameba, aquele deveria, teoricamente, ter uma “consciência” maior de sua existência do que esta. Assim os atos, ditos instintivos, em prol da auto-preservação deveriam ser verificados com uma maior intensidade no símio do que no protozoário. Neste ponto defendo que vida é também ter consciência de existir com mais ou menos propriedades e/ou qualidades biológicas. Deste modo poderíamos aceitar que um humano adulto tetraplégico, que já não mais cresça, não reaja a certos estímulos, tenha o metabolismo comprometido, não possa se reproduzir e tenha sua capacidade de adaptação ao meio severamente reduzida, ainda assim seja mais consciente de sua existência que um chimpanzé jovem e saudável, em pleno crescimento e possuindo as demais propriedades e qualidades orgânicas de acordo com que espera a biologia.
Neste ponto o significado de existência começa a mudar e por extensão o de vida. Existir para um ser racional não é mais simplesmente comer, beber, reproduzir ou estar, de forma geral, “funcionando”. Busca-se um sentido para tudo isso, desenvolve-se algo genericamente chamado de sensibilidade, criando-se conceitos de felicidade e infelicidade. A “busca” do sentido para existência então se encaminhará pelas clássicas perguntas: “Quem sou?”, “de onde vim e para onde vou?”, “porque estou aqui?”, etc. Enquanto há um anseio pelas respostas à essas perguntas há vida, e quanto maior esse desejo, maior é a vida que o acompanha e vice-versa. Portanto, detalhando melhor a resposta dada a pergunta do cético, quando afirmei que devemos refletir uma ação antes de executá-la por um tempo razoável “antes que a vida cesse”, e o mesmo perguntou “qual vida?”, diria que é justamente essa vida não sensitiva mas sensiente, que nos faz buscar um sentido para aqui estar, suportando, por vezes, “n” privações que por si só não explicariam nem justificariam o empenho em manter em funcionamento a estrutura orgânica da qual fazemos parte ou que seja nós mesmos.
Só quando se compreende a importância do que foi exposto acima é que se pode pensar com seriedade no desafio sheakespereano: “a vida nos oferece continuamente a oportunidade de fazer ou não fazer; de ser ou não ser”. Eis aqui a questão. Ou de outro modo: podemos durante a vida ocuparmo-nos continuamente de viver ou de morrer, cada qual escolhe o seu caminho.
A possibilidade de escolha é que torna a vida de alguns seres racionais complexa. Poderíamos dizer que a possibilidade de escolha é um direito natural, anterior e de base muito mais sólida do que qualquer direito positivo que buscasse regulamentar esta questão. A luta por exercer esse direito entretanto, por vezes, se torna dolorosa, por obstáculos naturais, sociais, de direito positivo e de preconceito moral ou social. Mas, de qualquer forma, quando escolhemos exercemos um ato egoísta. É um ato egoísta não porque não leve em consideração o outro ou os semelhantes ou que quer mais que seja, mas porque é um ato individual. E o que é um indivíduo? Mais especificamente um indivíduo humano?
A pessoa humana, considerada quanto às suas distinções particulares, tem em si, quando busca-se a sua sua significância, algo que a distingue, ainda que extrapoladas as suas próprias condições físicas, não sendo possível, mesmo com o esquadrinhamento, mais detalhista possível, das características psicológicas que lhe são singulares, obter-se um domínio completo do que, genericamente, tem a tradição denominado por essência. O sujeito, em análise, admitiria, portanto, a inclusão de novos predicados em si, na medida em que este seu “si” fosse sendo apreendido, não podendo ele, entretanto, servir, em seu conjunto e muito menos em si mesmo, de predicado a qualquer outro ser. Essa conclusão, sem a necessidade de maiores reforços, já evidencia a tarefa impossível de se qualificar, e portanto compreender um ser humano, que a medida que é apreendido está apreendendo, sendo construído, construindo-se e construindo a outros. O que, no máximo, pode-se conseguir é um resgate, bastante detalhado, da história de uma pessoa no mundo e, com isso, fazer-se tentativas de compreensão do ser atual.
Em verdade, o que se tem, na presente situação, é um dilema entre compreender-se a essência e a existência de um ser. A síntese da essência e da existência poderia assim ser expressa: “a essência é o que o ser é e a existência a maneira pela qual ele é”. Como a maneira ou modo não são involuntários e/ou aleatórios, o modo para ser exercido depende do esforço do indivíduo, em questão, que já existindo busca por ser. Podemos em nosso esforço, por conhecer tudo o que nos cerca, apossar-mo-nos da aparência do outro, ou da maneira pela qual ele é, porém nunca do seu ser “em si”, do que ele de fato ele é, ou, em outras palavras, do seu eu.. Chamarei a este eu de ego - e esta não seria uma significação original. Já a consciência que se tem do próprio eu chamarei de egoísmo (ego + ismo) - e aqui a significação, se não é original, pelo menos não é ortodoxa.
Desse modo o ato “egoísta” da escolha é opção de como fazer-se no mundo, de como construir-se a si mesmo, como diria Sartre, ou de como viver, como estou afirmando.
Como pode, portanto, alguém fazer-se, existir, de modo prático? Não pode? Claro que não. Há a necessidade imperiosa de reflexão, e essa necessidade não é um fardo mas antes um bálsamo. É claro que nem todos conseguem dedicar-se ao exercício da reflexão, mas é aqui que começa uma grande distinção entre os humanos, talvez a única distinção que valha a pena ser feita e para qual chamou a nossa atenção Nietzsche: os fortes e os fracos de “espírito”. Os fortes saberão julgar o que é bom para si, os fracos nunca - vivem em constante engano. E o que é bom? Responde Nietzsche: “Tudo o que eleve no homem o sentimento de potência, a vontade de potência, a própria potência”. O que é ruim? “Tudo que advém da fraqueza”, também nos responde o filósofo.
Creio poder, diante da linha argumentativa, com que iniciei esta explanação, defender que Bom (entre outros conceitos válidos possíveis) é o que é útil a nossa vida (no sentido em que a defendo), e, por isso, concordo com Nietzsche quando opondo-se ao moralismo de Kant afirma: “O que não é necessário à nossa vida, prejudica-a”, ou seja, o que não é útil à vida lhe é prejudicial. E o que pode ser útil à vida? “O dinheiro?” - poderia algum estúpido perguntar. Útil é o que é Bom e Bom é o que eleva a potência de um ser, o que o faz viver senão em plenitude, próximo à ela. A potência de um ser é algo que não lhe pode ser tirado, portanto não são as futilidades materiais que a sustentam, as coisas materiais não são úteis, são utilizáveis. A visão de uma flor e a apreensão de sua beleza é uma operação útil, viabilizada pela existência da flor, que leva a um momento de plenitude; já o desejo de possuir a flor e a sua captura fazem dela um objeto utilizável e a sensação resultante é um mero gozo de vaidade. Quando a flor murcha o prazer se vai - se já não foi antes - enquanto aquele que apreendeu o momento da existência da flor, no qual a beleza nela existia em toda a sua essência, jamais terá extinto em si o acréscimo de potência em seu ser.
Entender e saber escolher o que é bom é a fórmula da felicidade. Nunca se pode confundir o que é útil com o que é utilizável.
Voltando ao início, uma relação entre dois seres chega ao fim de uma etapa quando passa de útil à utilizável. Para uma relação ser útil tem que haver amor, e para cada forma de amor há uma forma de relação. Pode ser que o amor cesse ou pode ser que o amor mude de forma, em ambos os casos a relação tem que se ajustar ao sentimento. Pode ser também que por vezes nos enganemos com relação aos sentimentos e para uma forma de amor adotemos uma relação não condizente. Qualquer que sejam as situações tem que se ter a coragem o suficiente de assumi-la e buscar, custe o que custar, reparar o erro. Entretanto essa não é um atitude comum, pois ela não é uma atitude dos fracos. Os fracos se amoldam, buscam salvar conveniências, remendam suas relações com retalhos de acordos muitas vezes imbecis, imorais e, principalmente, ineficazes. Ou, ainda, se humilham, se anulam, mendigam afeto, atenção e principalmente o “imendigável”- o amor. Usam de todos os recursos disponíveis: pressão, palavras mais ou menos convincentes e/ou aleatórias, buscas em um passado que não é mais sustentado no presente, lágrimas, ameaças, ofensas, culpas, acusações, etc. Não é a toa que a frase vulgar que mais se ouve nessas horas é: “o que será de mim?”. Como o Ser para ser qualquer coisa precise de algum outro. Mas o que importa? O que interessa aos fracos é não desperdiçar investimentos feitos na matéria, as desculpas para não agir, para se amoldar, não vêm de motivos elevados - que habitam o interior de seus seres -, tais motivos e motivações residem alhures, sejam sociedade, pais, igreja, filhos, casa, posses, clube, amigos (se é que os são), o medo, a consideração à opinião alheia ou qualquer outra coisa. Conforme Nietzsche “uma ação perece quando confunde o seu dever com o conceito generalizado de dever.” Por isso, ainda conforme este grande filósofo, “uma virtude deve ser uma invenção nossa, nossa defesa legítima mais pessoal e necessária: em qualquer outro sentido ela é apenas um perigo”. E ainda; “o respeito por si próprio, o amor a si próprio; a imprescindível liberdade em relação a si mesmo” é o que deve ser conservado. No mais, tudo muda. Mas os humanos, de forma geral, são por demais hipócritas para aceitar mudanças, buscam o “prático”, a “irreflexão”, ou seja: negam a si mesmos a razão, a sensibilidade e a felicidade (ou os momentos em que a se tem) em lugar da estabilidade financeira e emocional, por exemplo. Mas o que é estabilidade? Como pode ser obtida? Já dizia Heráclito que um rio nunca é o mesmo, pois a água que passa em um ponto do seu curso não mais volta a passar ali. Alguém, por acaso, é sempre o mesmo? Se não, como pode um infeliz mortal achar que pode basear sua estabilidade (qualquer que seja) num ser que não é estável - que é mutante? Absurdo! Mas é a irreflexão que os fracos cultuam que os levam a isso. A estabilidade não é algo a ser desejado. A constância na busca de uma meta - sim! Mas tal constância reside na própria força, na própria potência de cada indivíduo.
“Para que serve então uma relação?” - poderiam me perguntar. Muitas são as relações e muitos são os sentimentos que as provocam e as sustentam. Uma relação entre pais e filhos é motivada e sustentada - pensa-se - pelo amor paternal/maternal. Uma relação entre irmãos/amigos é motivada e sustentada por um amor fraternal. Uma relação conjugal entre um homem e uma mulher deveria ser motivada e sustentada por um amor conjugal. Esse é um tipo de amor muito raro e altamente instável. Se o amor filial de um filho para um pai pode desaparecer, quanto mais o de um homem por uma mulher. O amor conjugal, quando termina, não necessariamente tem que deixar lugar ao vazio ou a outros sentimentos menos nobres. Toda a forma de amor é igualmente nobre. O amor é o sentimento mais elaborado do ser humano e todas as suas formas gozam de igual status. “Toda a maneira de amar vale a pena” como disse o cantor Milton Nascimento. Desse modo o amor conjugal pode ceder lugar ao amor fraternal, ou o que se pensava ser um amor conjugal nunca passou de um amor fraternal. É o caso de amigos que se casam. Mas isso não é bom? Aparentemente. Falta a paixão. O amor de amigos é uma forma de amor muito comportada, muito racional. Não é que isso impeça eles de fazerem sexo, por exemplo, mas falta magia. Um bom beijo não é um beijo mágico ainda que um beijo mágico seja um bom beijo. Um bom sexo não é um sexo mágico ainda que um sexo mágico seja um bom sexo. Num determinado momento, da vida do “casal amigo”, o beijo e o sexo conjugal, por exemplo, deixam de serem mágicos e passam a ser obrigacionais. O casal no dia mal se beija e o sexo vai ficando para os fins de semana (e isso é prático). Qual é a essência desse comportamento? Cansaço, stress, falta de tempo? Não! É falta de paixão. O amor conjugal é o raro momento de um eclipse em que a Amizade e a Paixão se cruzam. Para ser agraciado com esse fenômeno tem que se estar no “lugar certo” e na “hora certa”. Se os “pretendentes” chegarem mais ou menos adiantados/atrasados ou ficarão com tão só a Paixão ou tão só a Amizade. Antes a Amizade do que a Paixão. A primeira tem uma duração muito maior e conseqüências muito mais belas do que a segunda.
Conforme Platão o amor, sendo “filho” da “Pobreza”, nada tem a ofertar, carecendo do bom, do belo ou do bem. Mas como tem como “pai” o “Recurso”, dele herdou a capacidade de intermediar entre os deuses - detentores da verdade - e os “peregrinos da ascese”, que somos nós - os humanos. A ascese (do grego áskesis, exercício prático que leva a efetiva realização da virtude, à plenitude da vida moral.) é um trabalho de foro íntimo. A Pobreza pode ser interpretada como a Paixão e Recurso como a Amizade. A Paixão é arrebatadora, envolvente mas acaba-se facilmente por ser pobre, não ter conteúdo - é um “fogo de palha”. A Amizade prolonga-se por ser rica de conteúdo e estar plena de recursos para a sustentação de uma boa relação de “troca” (ou uma relação “ascésica”) entre dois seres - quaisquer que sejam os sexos.
Novamente, de volta ao começo, fim de uma relação para mim não significa, necessariamente, extinção, mas uma mudança de status. Mais do que a coragem de assumir o novo status há de se ter coragem para assumir as mudanças que ele impõe, sob pena de, se agirmos ao contrário, afogarmo-nos no lago da hipocrisia, suprirmos de matéria prima o poço de ódio e escorregarmos para dentro dele via lama da ilusão. Numa única palavra: buscamos a infelicidade. Creio que numa vida orgânica, tão curta, não há esforço deliberado, nesse sentido, que justifique isso. O amor conjugal ou é ou não é. Só a problemática filosófica já é por demais severa para dela se esquivar. Juntam-se à ela a pressão social: que impede o indivíduo de ir buscar por amor conjugal alhures, ou, se o encontra, o obriga a viver na clandestinidade; que diz que o indivíduo deve conservar o patrimônio conjunto, adquirido com sacrifício, ao longo de tantos anos. Tem-se, também, a pressão biológica: o impulso sexual tem que ser “obrigatoriamente” canalizado para onde o indivíduo não mais tem atração - o que é, segundo o filósofo Allan Bloom, o assassinato de Eros.
Uma relação assim desgastada e sobre pressão não tem como sobreviver a qualquer acordo. Manter uma relação “viva” a custa de “aparelhos” não me parece sensato nem sensível.
Mais uma vez, de volta ao início, o que dizer quando uma relação (conjugal - em particular) chega ao fim? O que dizer à quem? E por quê?
O único a quem interessa alguma ou algumas palavras é o parceiro/parceira ou companheiro/companheira. E as palavras são:

“Foi muito bom ter crescido com você e ter colaborado - tenho certeza - para com seu crescimento. Para mim não deixastes de ser bonito/bonita, uma pessoa agradável de se conversar e com quem eu gostaria, ainda, de dividir muitos bons momentos de diálogos edificantes. Gostaria que pudesses ter certeza absoluta que podes contar com meu ombro amigo e que não me temas - pois sou teu irmão. Busca em mim o meu Belo interior e me oferta a tua Beleza. Que possamos crescer em conjunto, ainda que vivendo separadamente - mais do que nunca amigos, mais do que nunca irmãos. Que nos visitemos e nos respeitemos. Que saibamos guardar com carinho o que foi passado, enquanto uma história que merece ser preservada e respeitada. Não sejamos néscios de confundir passado e presente. Sejamos os fortes de Nietzsche. Olhemos para o futuro plenos de vigor e de vontade de vencer. Um viva à amizade!”

O porquê dessas palavras são: gratidão e respeito.

VIDA LONGA AOS QUE SE AMAM - QUALQUER QUE SEJA A MANEIRA, POIS TODA MANEIRA DE AMAR VALE A PENA!

Paternidade I

Tolstói
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Quanto mais o homem envelhece, tanto mais se faz viva em seu espírito a imagem que o seu pai imprimiu ali.

Chorar

Padre Antônio, in Os Sermões
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Chorar com lágrimas é sinal de dor moderada; chorar sem lágrimas é sinal de maior dor; e chorar com riso é sinal de dor suma e excessiva...

segunda-feira, 7 de maio de 2007

O Crítico

HTSR
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"O critico é como um eunuco num harém: ele vê tudo, entende de tudo, sabe de tudo mas não faz nada." (ignorado)
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Mas é justamente essa a função do crítico: com seus comentários, despertar a ação, estimular a reação, induzir a reflexão.
O crítico não é um operador, mas um revisor. E é este o domínio que interessa ao indivíduo, quer seja ou não estudioso ou filósofo, que opte por uma postura crítica. No que diz respeito à filosofia kantiana, a atitude crítica[1] implica em posicionamento radical em vista a pergunta “pelas condições a partir das quais nossas representações passam a fazer sentido”.[2]
Por definição, não cabe, portanto, ao crítico, a postura de um "redentor" ou "salvador". Não pertence a ele, enquanto crítico, a iniciativa de ações ou mesmo a liderança de atitudes ou posicionamentos. É a análise criteriosa e o aponte das características mais relevantes[3] do objeto em questão que singulariza a crítica que, conforme Ferreira, é a "arte ou faculdade de examinar e/ou julgar obras do espírito, em particular as de caráter literário e artístico (...), sob forma de análise, comentário ou apreciação teórica e/ou estética".[4]
Contudo, defendo que a crítica não deve limitar-se as produções estéticas humanas porém, mais do que à generalidade do agir, aplicar-se à própria "percepção" de "mundo" organizada a partir da "leitura" racional.
Esse será o significado de crítica, e termos correlatos, nesse espaço de discussões.

[1] O filósofo “crítico” quer dizer aquele pensador que emprega a atitude crítica. A palavra “crítica”, aqui, não quer dizer ataque e sim análise crítica. Kant não se põe a atacar a razão, a não ser para mostrar as suas limitações. Antes pretende, Kant, evidenciar as suas possibilidades, colocando-a acima do confuso conhecimento que vem pelos canais dos sentidos. É, em suma, a capacidade de formar, criar ou aperfeiçoar conhecimento, em virtude da natureza e da estrutura da própria razão, que pretende Kant analisar.
[2] MÜLLER, Marcos José, Reflexão Estética e Intencionalidade Operante, 2001. Campinas, Manuscrito XXIV (2), p. 126.
[3] Tanto em suas pertinências positivas como negativas em vista de um critério válido e aceito.
[4] FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda, Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira

sexta-feira, 20 de abril de 2007

Sobre os Diferentes - I

Artur da Távola
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A Alma dos Diferentes
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Ah, o diferente, esse ser especial!Diferente não é quem pretenda ser. Esse é um imitador do que ainda não foi imitado, nunca um ser diferente.Diferente é quem foi dotado de alguns mais e de alguns menos em hora, momento e lugar errados para os outros. Que riem de inveja de não serem assim. E de medo de não agüentar, caso um dia venham a ser.O diferente é um ser sempre mais próximo da perfeição.O diferente nunca é um chato.Mas é sempre confundido por pessoas menos sensíveis e avisadas. Supondo encontrar um chato onde está um diferente, talentos são rechaçados; vitórias, adiadas; esperanças, mortas.Um diferente medroso, este sim, acaba transformando-se num chato. Chato é um diferente que não vingou. Os diferentes muito inteligentes percebem porque os outros não os entendem.Os diferentes raivosos acabam tendo razão sozinhos, contra o mundo inteiro.Diferente que se preza entende o porquê de quem o agride. Se o diferente se mediocrizar, mergulhará no complexo de inferioridade.O diferente paga sempre o preço de estar - mesmo sem querer -alterando algo, ameaçando rebanhos, carneiros e pastores.O diferente suporta e digere a ira do irremediavelmente igual,a inveja do comum, o ódio do mediano.O verdadeiro diferente sabe que nunca tem razão,mas que está sempre certo.O diferente começa a sofrer cedo, já no primário, onde os demais, de mãos dadas, e até mesmo alguns adultos,por omissão, se unem para transformaro que é peculiaridade e potencial em aleijão e caricatura.O que é percepção aguçada em:"Puxa, fulano, como você é complicado".O que é o embrião de um estilo próprio em:"Você não está vendo como todomundo faz?"O diferente carrega desde cedo apelidose marcações os quais acaba incorporando.Só os diferentes mais fortes do que o mundose transformaram (e se transformam)nos seus grandes modificadores.Diferente é o que vê mais longe do que o consenso.O que sente antes mesmo dos demais começarem a perceber.Diferente é o que se emociona enquanto todos em torno,agridem e gargalham.É o que engorda mais um pouco;chora onde outros xingam;estuda onde outros burram.Quer onde outros cansam.Espera de onde já não vem.Sonha entre realistas.Concretiza entre sonhadores.Fala de leite em reunião de bêbados.Cria onde o hábito rotiniza.Sofre onde os outros ganham.Diferente é o que fica doendo onde a alegria impera.Aceita empregos que ninguém supõe.Perde horas em coisas que só ele sabe importantes.Engorda onde não deve.Diz sempre na hora de calar.Cala nas horas erradas.Não desiste de lutar pela harmonia.Fala de amor no meio da guerra.Deixa o adversário fazer o gol,porque gosta mais de jogar do que de ganhar.Ele aprendeu a superar riso,deboche, escárnio,e consciência dolorosa deque a média é má porque é igual.Os diferentes aí estão: enfermos, paralíticos, machucados, engordados,magros demais, inteligentes em excesso, bons demais para aquele cargo,excepcionais, narigudos, barrigudos, joelhudos, de pé grande, de roupas erradas, cheios de espinhas, de mumunha, de malícia ou de baba.Aí estão, doendo e doendo, mas procurando ser, conseguindo ser, sendo muito mais.A alma dos diferentes é feita de uma luz além.Sua estrela tem moradas deslumbrantes que eles guardam para os pouco capazes de os sentir e entender.Nossas moradas estão tesouros da ternura humana.De que só os diferentes são capazes.Não mexa com o amor de um diferente.A menos que você seja suficientemente forte para suportá-lo depois...

Síntese Essencial...

HTSR
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Sinta puramente!
Reflita profundamente!
Aja livremente!

Razão e Emancipação (Kant e Schopenhauer)

HTSR
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No seio da tradição filosófica, a razão, na maior parte das vezes, ocupou uma posição predominante, no trato aos questionamentos pertinentes a este meio. Ora, o apoio inconteste na razão acaba por refletir um estado de crença. Desse modo, a “fé” na razão passa a constituir a própria essência de todo o empreendimento filosófico e, a mesma fé, dentro da tradição, implica, em nossa rotina cognitiva, na firme convicção de que as nossas faculdades racionais nada mais são do que uma “imagem refletida”, com maior ou menor precisão, de uma inteligência maior – quer seja, por exemplo, a do “arquiteto universal” de Kant ou proveniente do “Mundo das Idéias” de Platão – relembrada por Schopenhauer - que exercendo sua influência sobre o “mundo” orienta as coisas, que nele estão, segundo o fim pré-determinado por ela.Essa concepção, defendendo, para o homem, a condição de um ser racional dotado de capacidade para conhecer o “ser racional do mundo”, é, de modo mais ou menos evidente, a “viga mestra” do “edifício filosófico” da maioria dos grandes filósofos, de Platão a Thomas de Aquino, de Descartes a Leibniz, Spinoza, Kant e Hegel, entre outros. Embora Kant pretendesse, com o seu conjunto de Críticas, desestabilizar esse posicionamento dogmático, não parece ter sido tão bem sucedido na empreitada. Ao menos é isso o que pensa Schopenhauer.Por isso, a “vontade” de Kant – um racionalista - não é uma “vontade” humana - tão belamente explorada por Schopenhauer, um não racionalista[1] - afastando os indivíduos daquilo que lhes é mais caro; já defendido por Aristóteles ao afirmar que: “toda arte e investigação, e igualmente toda ação e todo propósito, tem em mira um bem qualquer; por isso o bem tem sido corretamente definido como aquilo para que todas as coisas tendem"[2], ainda que, não necessariamente, conforme um plano concebido por outra inteligência que não a humana.Para Schopenhauer, Kant partindo de uma cisão entre a razão e a vida, entendimento e intuição sensível, só poderia falar da liberdade humana no campo restrito de abstrações que não correspondem à vida de ninguém. Quem é o sujeito do imperativo categórico? Quem é o sujeito de juízos estéticos assim tão puros? A conseqüência do abstracionismo kantiano, conforme a convicção schopenhauriana, é a inviabilização das experiências em que o homem haveria de se experimentar emancipado. Me excederia, no âmbito deste comentário, se fosse inserir os aspectos morais da filosofia de Schopenhauer – embora o quisesse fazer. Limitarei-me a citar sua teoria estética. Para Schopenhauer, enquanto sobre a experiência estética pesar o abstracionismo kantiano, não poderemos compreender como ela haveria de nos conduzir à emancipação.

[1] Arthur Schopenhauer é o primeiro, entre os filósofos de destaque, a proclamar sistematicamente que o âmago do mundo é irracional, fundamentalmente oposto à inteligência e à razão.[2] ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco, 1987. São Paulo, Nova Cultural, p.09.