Crítica Libertária

Sobre críticos e libertários, ler abaixo... Aqueles serão os significados dessas palavras neste espaço de discussão, cooperação e diversão... (por quê, não?)

Crítico

O crítico não é um operador, mas um revisor. E é este o domínio que interessa ao indivíduo, quer seja ou não estudioso ou filósofo, que opte por uma postura crítica. Defendo que a crítica não deve limitar-se às produções estéticas humanas porém, mais do que à generalidade do agir, aplicar-se à própria "percepção" de "mundo", organizada a partir da "leitura" racional.

Libertário

Libertário, segundo definições de dicionário, pode ser compreendido como aquele que se inspira em doutrinas preconizadoras da liberdade "absoluta". Liberais, valorizam, acima de tudo, a liberdade. Isso inclui suas conseqüências para o "bem" ou para o "mal". Bem e mal são conceitos controversos, entretanto suponhamos que o cerceamento de liberdade - tido como um bem - pelos liberais seja um mal. Disso conclui-se que minha liberdade não pode atentar contra a liberdade de outro; portanto, não existe liberdade absoluta. Por outro lado, quanto mais houver liberdade, mais se acentuarão as diferenças. Já os libertinos dos séculos XVI e XVII caracterizaram-se pela liberdade de pensar, tratando das questões humanas sem se curvar a dogmas religiosos ou preceitos morais. Libertário, aqui, significará, particularmente, aquele que defende a liberdade -amíude, a de crítica - que impossível de ser absoluta - ad infinitum - que o seja enquanto dure...

Quem sou eu

Uma entidade difícil de definir pelo formalismo lingüístico. Entretanto, enquanto sujeito, defendo a liberdade de crítica e pratico a crítica da liberdade. Conseqüência: caminhar sobre o "fio da navalha" buscando o equilíbrio entre a transgressão e a disciplina, entre o rigor e a suavidade; tendo como "sol", a iluminar-me e a apontar-me o horizonte, a emancipação conferida pela reflexão ética e como forma primeira de expressão: a poesia.

Uma tarde em L. da Conceição...

Uma tarde em L. da Conceição...

Contato

tellessr.2016@gmail.com

AFORISMOS

"A verdadeira máxima do homem-massa é esta: sei que sou um verme, mas todo mundo é..." (Émile Zola)

"Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas" (Antoine de Saint-Exupéry ).

"Vivemos, num lusco-fusco da consciência, nunca certos com o que somos ou com o que nos supomos ser" (Fernando Pessoa).

DESTAQUE

Navegar é Preciso Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa: "Navegar é preciso; viver não é preciso".

Quero para mim o espírito [d]esta frase, transformada a forma para a casar como eu sou:

Viver não é necessário; o que é necessário é criar. Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso. Só quero torná-la grande, ainda que para isso tenha de ser o meu corpoe a (minha alma) a lenha desse fogo.

Só quero torná-la de toda a humanidade; ainda que para isso tenha de a perder como minha. Cada vez mais assim penso.

Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir para a evolução da humanidade.

É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça.

(Fernando Pessoa)

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Irracionalidade, ausência de ética e intolerância


Uniban, Talebã e o Brasil

Por Rogério Simões

O caso envolvendo a estudante Geisy Arruda tem provocado um grande debate no Brasil. Questões morais, direitos das mulheres, ética educacional etc, vários são os elementos trazidos à tona pelo incidente. Todos os que têm discutido o assunto parecem entender que, em torno do episódio, há muito mais em jogo do que apenas o futuro de uma estudante e a imagem pública de uma universidade particular.
A instituição em questão, Universidade Bandeirante, ou simplesmente Uniban, decidiu expulsar Geisy de seu corpo discente. Segundo comunicado divulgado ao público em anúncio pago, uma "sindicância consuante com o Regimento Interno" da universidade concluiu que a aluna é culpada de "flagrante desrespeito aos princípios éticos, à dignidade acadêmica e à moralidade". O Ministério da Educação exigiu explicações da instituição, e a ministra Nilcéia Freira, da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, criticou duramente a decisão. As explicações contidas no anúncio da Uniban parecem não ter convencido as autoridades do país.
Em questões de moralidade, não há necessariamente certo ou errado. Sociedades desenvolvem-se de formas muito particulares, de forma que algo aceitável na Suécia pode não ser tolerado no México, muito menos na Arábia Saudita. Algo moralmente condenável no Brasil dos anos 40, como a prática do sexo antes do casamento, é hoje um comportamento não apenas natural, mas esperado. A pornografia é proibida em países muçulmanos, mas na maior parte do mundo ocidental, se produzida com e para adultos (a partir de 18 anos), trata-se de um produto como outro qualquer, de veiculação restrita, mas aceito e livremente consumido. O aborto voluntário, ainda proibido no Brasil fora casos de estupro e risco à vida da mãe, é um direito legal em nações como Grã-Bretanha, França ou Estados Unidos. Na Nicarágua, uma mulher grávida em decorrência de um estupro pode ir para a cadeia se optar pela interrupção da gestação.
No Afeganistão (foto acima), as mulheres são alvo de tradições e leis que estão entre as mais conservadoras do mundo. Nos tempos do regime do Talebã, nos anos 90, mulheres violentadas poderiam ser apedrejadas até a morte por terem, mesmo que involuntariamente, mantido relações sexuais fora do casamento. Nesse mundo do Talebã, Geisy Arruda não teria direito nem mesmo à educação. No Irã, ela poderia ir livremente à faculdade, desde que de corpo e cabeça cobertos. Já na maior parte do mundo ocidental, um vestido exageradamente curto de uma aluna seria recebido apenas com olhares (interessados ou indignados), comentários (elogiosos ou negativos), reclamações formais aos responsáveis pelo recinto ou puro desinteresse.
Cada sociedade escolhe seu grau de abertura moral e as formas como pretende punir desvios de conduta. O Brasil, por suas características históricas, é um verdadeiro caldeirão cultural, com grande variação de pensamentos, dos mais liberais aos mais conservadores. A legislação e o próprio bom senso, que incorporaram mudanças sociais como o divórcio, sempre tentaram encontrar um denominador comum que reflita o que o país pensa e tolera. O incidente envolvendo Geisy Arruda, a Uniban e estudantes engajados no linchamento moral de uma colega (para a universidade, uma "defesa do ambiente escolar"), pode ser um bom momento para a sociedade brasileira mostrar do que mais se aproxima: dos ideais ocidentais de tolerância ou do radicalismo do Talebã.

Em 09 de novembro de 2009.