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Aristóteles convenceu-se de que Platão demonstrou, com seu modo de viver, que é possível ser feliz e virtuoso - ao mesmo tempo - e que é impossível, em algum momento, ninguém assim o ser. Não faço tal separação entre esses termos, do mesmo modo que não apoio a cartesiana disjunção entre mente e corpo. A priori (designação aqui empregada ao modo kantiano), penso que aquele conjunto é indissolúvel, sendo impossível ser - de fato - feliz sem ser virtuoso. Contudo, concordo com Habermas que nos lembra que "enquanto basearmos a moral, que fornece o critério para a investigação de si mesmo, apenas no conhecimento humano, no sentido socrático ou kantiano, faltará a motivação para converter em prática os julgamentos morais." Diante disso, não poderia ser mais precisa, ainda que desoladora, a observação de Kierkegaard ao criticar a sociedade cristã, supostamente cônscia e esclarecida de sua moral entretanto, extremamente corrompida: "Disso, pode-se tanto chorar quanto rir ao se perceber que todo esse saber e essa compreensão não exercem nenhum poder sobre a vida das pessoas". Para Habermas, "o recolhimento cínico de um estado injusto do mundo não falam em favor de um déficit de conhecimento, mas de uma corrupção do desejo. As pessoas que melhor poderiam sabê-lo, não querem compreender". Esse desinteresse pela aplicabilidade do pensamento ético, essa falta de desejo por uma ética prática é o que impede, do meu ponto de vista, o estabelecimento do "ser virtuoso" aos indivíduos. O hiato entre o modo de ser - caráter -, o cognitivo e o modo de agir, ou seja: a inexistência de um amálgama entre o ethos, o cogito e a praxis é a responsável pelo estabelecimento e manutenção da infelicidade individual e, por extensão, coletiva que, em um efeito feedback, distorce ou corrompe o desejo, se não impede a construção de um ethos capaz de unir o pensamento à prática.
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