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Ciúme é coisa sem sentido, sem razão. Explico: a causa do ciúme é a necessidade de domínio sobre a vontade alheia, algo que, obviamente, é virtualmente impossível. Se é impossível é irracional, sem razão. Pode-se até ludibriar a vontade alheia, mas nunca controla-la de fato. O ciúme é, na verdade, uma disfarçada insegurança. Enorme insegurança. E também vontade de poder (que nada mais é do que insegurança, também disfarçada). Esse desejo de impor a própria vontade à dos outros é, alem de irracional, imoral – a liberdade de julgamento e de ação deve ser inerente a todo ser humano, sendo assim a tentativa de impor, sob quaisquer formas de coerção, os próprios valores e a própria vontade sobre a de outra pessoa é algo, intrinsicamente, imoral. Quem acharia por bem perder a própria liberdade de ação? Raiva, energia A manifestação física do ciúme, seu desdobramento no mundo sensível, é perceptível pelas conseqüências da raiva que ele geralmente suscita. Em geral, o ciúme leva à raiva, ao menos quando não controlado. A raiva também se mostra irracional – todos os seres animados possuem raiva; é a forma pela qual um ser procura atingir seus objetivos quando outros meios de ação se mostraram ineficientes. O problema é que, quando o ser “A” procura atingir os próprios objetivos por meio da raiva, acaba por infligir dano a outro um outro ser, por exemplo, “B”, ser esse que “A” geralmente, em sua cegueira raivosa, acredita ser o impecilho real que o impede de atingir seus objetivos. Logo, vêe-se que a raiva, quando permite algum sucesso, só o permite a um de dois, ou mais, seres. Dessa maneira também, assim como o ciúme, define-se a raiva como algo irracional e, nesse caso, por conseguinte, também imoral. A raiva, ao mostrar-se no mundo sensível, o faz por ações, por trabalho. Trabalho é gasto de energia. Logo, a raiva leva a um excessivo gasto, também irracional (assim como o ciúme e a própria raiva) de energia, energia essa que poderia ser utilizada em ações mais satisfatórias para a construção de uma sociedade mais equilibrada. Difícil... Agora falando por mim mesmo. Cheguei a essas conclusões depois de algumas reflexões privadas (sim, ambigüidade; para mim, pessoalmente, o local de reflexão filosófica, por excelência, é o banheiro, em tudo que este proporciona). Penso ser impressionante como uma coisa aparentemente corriqueira e banal como o ciúme pode, depois de analisado, assumir proporções colossais – se essa energia oriunda da raiva que nasce com o ciúme fosse utilizada para questões comunais poderíamos vivenciar uma outra idéia de sociedade pois, afinal, quem não sente ciúme? Infelizmente, eu, por mim mesmo, ainda não a aprendi a controlar esse sentimento tão misterioso (na verdade, qual sentimento não é misterioso quando posto em análise pela razão, que é filha recente dele?). Também não é possível prever quais seriam as conseqüências de um eventual controle sobre esse sentimento. Nosso “pai inconsciente” poderia desgostar-se com o “filho consciente”, por vezes nada pródigo. Como geralmente acontece após refletir, não cheguei a nenhuma conclusão, o que pode ser bom. Ou não.
http://felipe-pensamentos.blogspot.com/2008/03/reflexo-sobre-o-cime.html
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